Adriel Silva Pinto
1 min readMay 5, 2020

Paterno

Nunca pensou em seguir para o seminário, seu pai defenderá o militares, e ao mesmo tempo se dizia muito cristão. Era ministro da sua igreja. Vivia como um asceta, não bebia, não usava shorts, não falava palavrão, um fariseu ou não. Seu pai desde criança era a figura mais próxima de Deus, por ser tão rígido, por sempre ser assertivo demais, e principalmente por punir por amor. Com o tempo ele percebeu que a fé do seu pai não passava de um fio, quase invisível, porém necessário, era aquilo que o mantinha lúcido. Do contrário seria homem que nem Barbacena aceitaria. Quando velho ficou feliz de seu pai todas as terças colocar a bíblia debaixo do braço e ir. Seus amigos eram como ele, tinha perdido o tempo buscando o espírito santo, orando as madrugadas em busca de revelações. Nunca acharam nada. O seminarista tinha raiva do pai por isso. Mas ao mesmo tempo sabia que aquilo o salvava. Mas o seu Deus era diferente demais. Quando sentava os dois pra conversar, parecia que eram sacerdotes de deuses de outra civilização. Mas foi justamente por ter visto o tanto que eram diferentes, que perdoava o pai. Além de saber que a fé desse ia até ali, era limitada, mas era o bastante. Perceberá que a espiritualidade era discriminatória, ou melhor, se apresentava para cada um de uma forma. O céu seria o mesmo? O filho esperava que não. Mas esperava que o pai ficasse em um lugar parecido como aquela velha igreja de terça a noite.